Indymedia Estrecho / Madiaq - tropa de elite http://estrecho.indymedia.org/taxonomy/term/1485/0 es Tropa de Elite http://estrecho.indymedia.org/general/noticia/tropa-elite <div><b><strong><span>Reinaldo Azevedo</span></strong></b></div> <div><strong><span>Capit&atilde;o Nascimento bate no Bonde do Foucault</span></strong></div> <div>&nbsp;</div> <div><strong><span>&nbsp;</span></strong></div> <div><strong>&nbsp;</strong></div> <div><span>Nunca antes neste pa&iacute;s um produto cultural foi objeto de cerco t&atilde;o covarde como Tropa de Elite, o filme do diretor Jos&eacute; Padilha. Os donos dos morros dos cadernos de cultura dos jornais, investidos do papel de aiatol&aacute;s das utopias permitidas, resolveram inciner&aacute;-lo antes que fosse lan&ccedil;ado e emitiram a sua fatwa, a sua senten&ccedil;a: &quot;Ele &eacute; reacion&aacute;rio e precisa ser destru&iacute;do&quot;. Num programa de TV, um careca, com barba e &oacute;culos inteligentes, &iacute;ndices que denunciam um &quot;inteliquitual&quot;, sotaque inequ&iacute;voco de amigo do povo, advertia: &quot;A mensagem &eacute; perigosa&quot;. Outro, olhar esgazeado, sintaxe tr&ecirc;mula, sonhava: a solu&ccedil;&atilde;o &eacute; &quot;descriminar as drogas&quot;. E houve quem n&atilde;o resistisse, cravando a palavra m&aacute;gica: &quot;&Eacute; de direita&quot;. Nem chegaram a dizer se o filme &ndash; que &eacute; entretenimento, n&atilde;o tratado de sociologia &ndash; &eacute; bom ou n&atilde;o. <p><strong>Texto completo</strong></p> <p>Seq&uuml;estrado pelo Bonde do Foucault (j&aacute; explico o que &eacute; isso), Padilha foi libertado pelo povo. A pirataria transformou seu filme num fen&ocirc;meno. A esquerda intelectual, organizada em bando para assaltar a reputa&ccedil;&atilde;o alheia (como de h&aacute;bito), j&aacute; n&atilde;o podia fazer mais nada. Pouco importava o que dissesse ou escrevesse, o filme era um sucesso. Derrotada, restou-lhe arrancar, como veremos, do indiv&iacute;duo Padilha o que o cineasta Padilha n&atilde;o confessou. Por que tanta f&uacute;ria? A resposta &eacute; simples: Tropa de Elite comete a ousadia de propor um dilema moral e de oferecer uma resposta. Em tempos de triunfo do analfabetismo tamb&eacute;m moral, &eacute; uma ofensa grave.</p> <p>Qual dilema? N&atilde;o h&aacute; como ressuscitar o fil&oacute;sofo alem&atilde;o Immanuel Kant (1724-1804), mas podemos consultar a sua obra e ent&atilde;o indagar ao consumidor de droga: &quot;Voc&ecirc; s&oacute; pratica a&ccedil;&otilde;es que possam ser generalizadas?&quot;. Ou por outra: &quot;Se todos, na sociedade, seguirem o seu exemplo, o Brasil ser&aacute; um bom lugar para viver?&quot;. O que o pensamento politicamente correto n&atilde;o suporta no Capit&atilde;o Nascimento, o anti-her&oacute;i com muito car&aacute;ter, n&atilde;o &eacute; a sua trucul&ecirc;ncia, mas a sua clareza; n&atilde;o &eacute; o seu defeito, mas a sua qualidade. Ele n&atilde;o padece de psicose dial&eacute;tica, uma brotoeja te&oacute;rica que nasce na esquerda e que faz o bem brotar do mal, e o mal, do bem. Nascimento cultua &eacute; o bom paradoxo. Segue a m&aacute;xima de L&uacute;cio Fl&aacute;vio, um marginal lend&aacute;rio no Brasil, de tempos quase rom&acirc;nticos: &quot;Bandido &eacute; bandido, pol&iacute;cia &eacute; pol&iacute;cia&quot;. </p> <p>A cena do filme j&aacute; &eacute; famosa: numa incurs&atilde;o &agrave; favela, o Bope mata um traficante. No grupo de marginais, h&aacute; um &quot;estudante&quot;. Aos safan&otilde;es, Nascimento lhe pergunta, depois de enfiar a sua cara no abd&ocirc;men estuporado do cad&aacute;ver: &quot;Quem matou esse cara?&quot;. Com medo, o rapaz engrola uns &quot;n&atilde;o sei, n&atilde;o sei&quot;. Alguns tapas na cara depois, acaba respondendo: &quot;Foram voc&ecirc;s&quot;. E ouve do capit&atilde;o a resposta que mais irritou o Bonde do Foucault: &quot;N&atilde;o! Foi voc&ecirc;, seu maconheiro&quot;. Nascimento, quem diria?, &eacute; um disc&iacute;pulo de Kant. Um pouco desastrado, mas &eacute;. A narrativa &eacute; sempre pontuada por sua voz em off. Num dado momento, ele faz uma indaga&ccedil;&atilde;o: &quot;Quantas crian&ccedil;as n&oacute;s vamos perder para o tr&aacute;fico para que o playboy possa enrolar o seu baseado?&quot;.</p> <p>O Bope que aparece no filme de Padilha &eacute; incorrupt&iacute;vel, mas violento. O principal parceiro de Nascimento chega a desistir de uma a&ccedil;&atilde;o porque n&atilde;o quer compactuar com seus m&eacute;todos, que, fica claro, s&atilde;o ilegais. Trata-se de uma mentira torpe a acusa&ccedil;&atilde;o de que o filme faz a apologia da tortura. Ocorre que o &oacute;dio que a patrulha ideol&oacute;gica passou a devotar &agrave; obra n&atilde;o deriva da&iacute;. Isso &eacute; pretexto. O que os &quot;playboys&quot; do relativismo rejeitam &eacute; a evoca&ccedil;&atilde;o da responsabilidade dos consumidores de droga na trag&eacute;dia social brasileira. Nascimento invadiu a praia do Posto 9, em Ipanema. </p> <p>J&aacute; empreguei duas vezes a express&atilde;o &quot;Bonde do Foucault&quot; para me referir &agrave; quadrilha ideol&oacute;gica que tentou p&ocirc;r um saco da verdade na cabe&ccedil;a de Padilha: &quot;Confesse que voc&ecirc; &eacute; um reacion&aacute;rio&quot;. &quot;Bonde&quot;, talvez voc&ecirc;s saibam, &eacute; como se chama, no Rio de Janeiro, a a&ccedil;&atilde;o de bandidos quando decidem agir em conjunto para aterrorizar os cidad&atilde;os. Quem j&aacute; viu Tropa de Elite sabe: fa&ccedil;o alus&atilde;o tamb&eacute;m a uma passagem em que universit&aacute;rios &ndash; alguns deles militantes de uma ONG e, de fato, aliados do tr&aacute;fico &ndash; participam de uma aula-semin&aacute;rio sobre o fil&oacute;sofo franc&ecirc;s Michel Foucault (1926-1984). Falam sobre o livro Vigiar e Punir, em que o autor discorre sobre a evolu&ccedil;&atilde;o da legisla&ccedil;&atilde;o penal ao longo da hist&oacute;ria e caracteriza, de modo muito cr&iacute;tico, os m&eacute;todos coercitivos e punitivos do estado.</p> <p>No Brasil, os traficantes de id&eacute;ias mortas s&atilde;o quase t&atilde;o perigosos quanto os donos dos morros, como evidenciam nossos livros did&aacute;ticos. Foucault sempre foi um incompreendido. Por que digo isso? Porque ele era ainda mais picareta do que seus cr&iacute;ticos apontaram. No filme, aluna e professor fazem um pastiche de seu pensamento, e isso serve de pretexto para um severo ataque &agrave; pol&iacute;cia, abominada pelos bacanas como for&ccedil;a de repress&atilde;o a servi&ccedil;o do estado e suas injusti&ccedil;as. Sim, isso pode ser Foucault, mas Foucault era pior do que isso. Em Vigiar e Punir, ele fica a um passo de sugerir que o castigo f&iacute;sico &eacute; prefer&iacute;vel &agrave;s formas que entende veladas de repress&atilde;o postas em pr&aacute;tica pelo estado moderno. Lixo. </p> <p>O personagem Matias, um policial que faz o curso de direito, &eacute; o elo entre o Capit&atilde;o Nascimento, o kantiano r&uacute;stico, e esse n&uacute;cleo universit&aacute;rio. A seq&uuml;&ecirc;ncia em que essas duas &eacute;ticas se confrontam desmoraliza o discurso progressista sobre as drogas e revela n&atilde;o a conviv&ecirc;ncia entre as diferen&ccedil;as, mas a coniv&ecirc;ncia com o crime de uma franja da sociedade que pretende, a um s&oacute; tempo, ser benefici&aacute;ria de todas as vantagens do estado de direito e de todas as transgress&otilde;es da delinq&uuml;&ecirc;ncia. Por isso o &quot;Bonde do Foucault&quot; da imprensa tentou fazer um arrast&atilde;o ideol&oacute;gico contra Tropa de Elite. Quem consome droga il&iacute;cita p&otilde;e uma arma na m&atilde;o de uma crian&ccedil;a. &Eacute; simples. &Eacute; fato. &Eacute; objetivo. Cheirar ou n&atilde;o cheirar &eacute; uma quest&atilde;o individual, moral, mas &eacute; tamb&eacute;m uma quest&atilde;o &eacute;tica, voltada para o coletivo: em qual sociedade o consumidor de drogas escolheu viver? Posso assegurar: n&atilde;o h&aacute; livro de Foucault que nos ajude a responder. </p> <p>Derrotada, a elite da tropa esquerdopata n&atilde;o desistiu. Jos&eacute; Padilha e o ator Wagner Moura foram convocados a ir al&eacute;m de suas sand&aacute;lias. Assim como um juiz s&oacute; fala nos autos, a voz que importa de um artista &eacute; a que est&aacute; em seu trabalho. Ocorre que era preciso uma repara&ccedil;&atilde;o. A opini&atilde;o de ambos &ndash; ligeira e mal pensada &ndash; favor&aacute;vel &agrave; descrimina&ccedil;&atilde;o das drogas amea&ccedil;ou, num dado momento, sobrepor-se ao pr&oacute;prio filme. Observem: Tropa de Elite trata &eacute; da fal&ecirc;ncia de um sistema de seguran&ccedil;a em que, segundo Nascimento, um policial &quot;ou se corrompe, ou se omite, ou vai para a guerra&quot;. </p> <p>A falha desse sistema independe do crime que ele &eacute; chamado a reprimir. Se as drogas forem liberadas e aquela falha permanecer, os maus policiais encontrar&atilde;o outras formas de extors&atilde;o e associa&ccedil;&atilde;o com o crime. E esse me parece um aspecto importante do filme, que tem sido negligenciado. Um dos lemas da tropa &eacute; &quot;No Bope tem guerreiros que acreditam no Brasil&quot;. Esse patriotismo ing&ecirc;nuo e ret&oacute;rico tem f&ocirc;lego curto: um dos soldados da equipe morre, e seu caix&atilde;o est&aacute; coberto com a bandeira brasileira. Solene e desafiador, Nascimento chega ao vel&oacute;rio e joga sobre o &quot;auriverde pend&atilde;o da esperan&ccedil;a&quot; a assustadora bandeira do Bope: um cr&acirc;nio fincado por uma espada, atr&aacute;s do qual se cruzam duas pistolas. Outro dos refr&otilde;es do grupo pergunta e responde: &quot;Homem de preto, qual &eacute; sua miss&atilde;o? / Entrar na favela e deixar corpo no ch&atilde;o / Homem de preto, o que &eacute; que voc&ecirc; faz? / Eu fa&ccedil;o coisas que assustam satan&aacute;s&quot;. </p> <p>Resta evidente que o filme n&atilde;o prop&otilde;e este Bope como modelo de pol&iacute;cia. <br /> Pouco me importa o que pensam Padilha e Moura. O que interessa &eacute; o filme. E o filme submete a um justo rid&iacute;culo a sociologia vagabunda que tenta ver a pol&iacute;cia e o bandido como lados opostos (&agrave;s vezes unidos), mas de id&ecirc;ntica legitimidade, de um conflito inerente ao estado burgu&ecirc;s. O kantiano r&uacute;stico &quot;pegou geral&quot; o Bonde do Foucault.</p></span></div> <div>&nbsp;</div> <div>&nbsp;</div> <div><span>Conhe&ccedil;a o <a href="http://100militar.blogspot.com">Portal Militar Brasileiro</a>, web site que prima pela verdade dos fatos, sem a manipula&ccedil;&atilde;o comum da m&iacute;dia:</span></div> <div><span><a href="http://100militar.blogspot.com">http://100militar.blogspot.com</a></span></div> http://estrecho.indymedia.org/general/noticia/tropa-elite#comments General cinema brasileiro portal militar brasileiro tropa de elite Mon, 21 Jun 2010 13:55:20 +0000 2162 at http://estrecho.indymedia.org